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Às vezes eu sinto medo. Às vezes eu sinto muito, muito medo. Como se, de repente, o mundo deixasse a sua expressão conhecida, palpável. Novos contornos desse mundo. Agora são outras cores. E talvez seja estranho para mim deixar de ser o centro das atenções. Penso nos amigos, nos anos de conversa demorada e divagações alcoolicas e outras tantas sóbrias que construíram a nossa relação. Penso no tempo. Penso no espaço -tempo. O que é o aqui e o agora? É difícil esperar, por que esperar envolve coisas que vão muito além do tempo. Por que esperar é um ato de todo o corpo. Vivo um momento de suprema espera. Espero. Espero. Não tenho a pretensão de ser a única, mas o que fazer se eu me sinto assim, agora? Mas acho que me sinto única no sentido de uma, de só.

Sou eu quem sabe das coisas e nem sei falar sobre elas.
Sou eu que sinto, que alimento, que sofro.
Sou eu quem ama, sou eu quem guarda, sou eu o vaso que leva a nova vida.
Sou eu que espero. E na arte de esperar eu me perco.
Enquanto as luzes se acendem para o céu negro...eu espero.

(Escrita no fim da gestação do Pedro...meu filho de seis anos. Permeada de medos e de hormônios. Fico impressionada não com a clareza das idéias mas com a obscuridade. Quem foi a Lílian que escreveu?)